Caminhar é um ato de busca e de encontro. Não saio pela porta levando destinos. Caminho por serras cheias de dúvidas e nascimentos, pois meus horizontes estão grávidos de sonhos. Os passos que dou vão longe, com vontade de deitar em um livro de memórias, pois é ai que minha saudade mora. Meus caminhos são isso, e aquilo, uma alegria que chega, um choro que vai embora.
Mercado - Vitória da Conquista - Ba
Chinatown - Toronto
Ilha de Paquetá
Araquém Alcântara
O trabalho de Araquém é um grande testemunho sobre o Brasil, das paisagens naturais, dos animais, da fauna, flora, e de nós, pessoas.
Quando vejo suas fotografias, sempre percebo como não conheço o meu país. Como é grande, diverso e belo. O drama da vida através do seu olhar, me parece se refletir de uma forma impactante e singela, cheia de dignidade pelas pessoas e lugares por onde fotografa. Talvez ele seja motivado por uma vontade de despertar em nós, o desejo de também conhecer, e a partir disso, cuidar melhor de nosso país. Quando vemos a beleza de um lugar, muitas vezes nossa intuição é de buscar preservá-la. É uma tarefa educadora a de sensibilizar através das imagens, mas pessoalmente, vejo no trabalho de Araquém esse direcionamento. A fotografia deve ter sido para ele um chamado, ao qual ele foi convidado e nos convida, para conhecer e preservar as coisas boas do Brasil.
Abaixo algumas fotografias de sua autoria.
Bienal do Livro do Ceará
Um dos trabalhos que mais tive o prazer em fazer foi o registro fotográfico da Bienal do Livro do Ceará, na cidade de Fortaleza, em 2022.
O tempo passou e ainda lembro com carinho os encontros e os momentos que pude registrar. Foram convidadas diversas pessoas do mundo literário e da cultura, dentre elas a presença de tribos indígenas, foi uma verdadeira força para o evento. Poder ouvir suas histórias, suas lutas, suas adaptações as adversidades, assim como suas sugestões sobre diversos temas sociais do país, foi um grande aprendizado para mim, e acredito que também para quem esteve presente.
Abaixo, três retratos que estão entre os meus favoritos, e são para mim uma boa lembrança da experiência desse trabalho.
"Pequena África"
Pesquisando sobre o trabalho de Walter Firmo, me deparei com essa pérola de filme chamado Pequena África, que conta a história de um "cemitério de escravos" na cidade do Rio de Janeiro. O filme é uma bela homenagem à memória dos negros no Brasil, assim como da história da cidade. Embora abordando um tema triste e doloroso, pude perceber muita leveza, poesia e beleza na história. Um encanto cinematográfica que me transportou para a capital fluminense e me fez imaginar o passado da cidade, assim como as incontáveis histórias que por lá aconteceram. Como é importante o apoio e a valorização da nossa memória coletiva.
O filme é de 2002, e é dirigido por Zózimo Bul bul. Walter Firmo é o diretor de fotografia. Compondo o elenco estão o ator e diretor de cinema, Waldir Onofre, conhecido pela direção do filme As aventuras amorosas de um padeiro (1975); Douglas Silva – famoso pelo papel de Dadinho em Cidade de Deus (2002); e Flávia Souza da Cruz, atriz, cantora, produtora e uma das fundadoras da Associação de Mulheres Negras Aqualtune (RJ).
Abaixo alguns frames do filme e o link para assistir no Youtube.
"Penitentes"
O fotógrafo Guy Veloso possui um vasto trabalho sobre a prática da religiosidade no Brasil. As fotografias que compõe o seu acervo são de uma força impressionante.
A série "Penitentes", com algumas fotografias compartilhadas abaixo, foram feitas na cidade de Juazeiro da Bahia, em 2016. Os momentos registram pela primeira vez o ato de autoflagelação daquelas pessoas. A forma como Guy Veloso realiza as fotografias desse ensaio, nos permite imaginar o transe que parece envolver todo o ritual, fazendo surgir uma sensação de mistério, mas também de grande respeito. Acredito que todo o seu trabalho constitui um importante documento para história da religiosidade no país.
Por termos esse traço como uma de nossas maiores características, mergulhar no trabalho de Guy Veloso é uma experiência riquíssima para se aproximar dessa tema fundamental de nossa história e identidade.
"A fotografia é um estar"
Walter Firmo é um grande fotógrafo, cuja as potentes imagens nos fazem ver além do comum, mesmo diante do ordinário. Nos lembra que a fotografia é um estar presente, despertos ou em busca do despertar na vida.
Educador, como todo artista autêntico, nos faz pensar sobre o mundo e sobre nosso lugar nele. Busca desfazer de forma poética, os julgamentos sobre pessoas e lugares, que de alguma forma tiveram suas identidades feridas e roubadas. Algo que penso quando vejo suas fotografias, é que há um convite a ressignificar a vida, buscando ver e sentir a beleza que existe no mundo, apesar de tantas dores. Ele nos sugere aceitar a existência das adversidades, e com isso criar força para se reinventar com sensibilidade e consciência.
Seu trabalho é uma grande inspiração para mim, pois sempre refresca o significado da fotografia em minha vida.
Link: https://ims.com.br/exposicao/walter-firmo-no-verbo-do-silencio-a-sintese-do-grito_ims-paulista/
Fotos abaixo: Walter Firmo.
Festival da Primavera
Tive o prazer de visitar o Festival da Primavera 2024, realizado pelo Centro de Cultura Japonesa Canadense, em Toronto.
O espaço é dedicado a comunidade japonesa, porém possui uma proposta de estar aberto para outras nacionalidades, realizando atividades culturais, artísticas e educacionais como exibições de filmes, exposições, aulas de dança, artes marciais, entre outras, além de possuir uma biblioteca com títulos sobre a história antiga e atual do Japão. O festival tinha o objetivo de dar as boas vindas e celebrar a chegada da primavera. Admiro as culturas que não esquecem a nossa ligação vital com a natureza. É triste perceber como nos distanciamos dela, e como não fazemos as conexões entre esse distanciamento e os problemas sociais que vivemos, dos econômicos aos psicológicos e espirituais.
Abaixo algumas imagens feitas durante o festival.
De onde a neve vem.
De onde surge o que é invisível e nos toca a pele? Talvez venha do mesmo lugar aonde nasce a cor das flores, o sabor dos sorrisos, a vibração dos abraços. Do ato de amor que dá vida a grande Poesia.
Estação Union
A fotografia me ajuda a me relacionar com os espaços aonde estou. Se chego em uma nova cidade ou país, quando saio para fotografar, costumo encontrar lugares que me dão a vontade de visitá-los várias vezes. A partir daí começo a criar um vínculo, uma relação, um ritual e inicio um processo de adaptação. Em Toronto, Canadá, esse local para mim tem sido a estação de trem e metrô Union.
Sempre gostei de trens. Quando criança lembro de visitar minha tia avó no bairro Damas em Fortaleza. Seu apartamento ficava próximo a uma linha de trem que se via da janela de sua sala. Sempre que ouvia o apito, eu corria para a janela para ver o trem passar e achava aquilo mágico.
A Union é a maior estação de Toronto, que é a grande metrópole do país. São milhares de pessoas que passam por lá diariamente. Sua construção teve início em 1914, e ainda hoje ela é a principal porta de entrada para estrangeiros e passageiros locais em Toronto. Podemos perceber nitidamente o traço cosmopolita da cidade quando visitamos a estação. Isso é algo que também me desperta o interesse, ter a sensação de "ver o mundo" em um único local. Gosto de sentar em um banco e simplesmente observar o movimento das pessoas. Eu sempre gostei de viajar, então estar em um lugar por onde as pessoas passam para viajar, me desperta lembranças boas.
Desde dezembro de 2023, tenho visitado e fotografado a estação. Espero com isso reunir um conjunto interessante de fotografias que possam mostrar o cotidiano do lugar. Abaixo algumas imagens que fiz no dia 28/02/24.
James, o fotógrafo.
Conheci James de uma forma despretensiosa. Estava em um Café com Vitória e decidi sair um pouco para fotografar. Ao sair fui surpreendido por ele, "Com licença, você pode vir aqui um instante". E me colocou na parte da calçada onde a luz podia tocar meu rosto.
Ele começou a me dar coordenadas, ajeitou meu chapéu, minha jaqueta, me posicionou diversas vezes, me pediu para fazer expressões, e eu me senti como um ator. Foi uma ótima sensação a de estar do outro lado da lente, sendo o fotografado, e tendo a impressão de possuir algo interessante o suficiente para que alguém quisesse fotografar. Ao longo de nossa sessão, as pessoas que caminhavam na calçada pararam para ver. Outras pessoas que passavam e chamavam a atenção de James, foram convidadas para serem fotografadas. Eu perguntei o que ele gostava de fotografar e ele me disse: "rostos interessantes, os jovens vivos". Sua bicicleta é o seu estúdio, ele me explicou. Eu perguntei o que ele viu em mim, e ele respondeu que a minha persona o havia interessado. E isso elevou minha auto estima.
Foi uma tarde muito rica e divertida, onde pude aprender mais sobre fotografia, além de interagir com desconhecidos, o que para mim é a grande experiência de ser fotógrafo. Aproveitei para fazer alguns retratos de James, enquanto ele trabalhava.
Quem quiser conferir o seu trabalho, a sua página no instagram é @grahamjeg.
Conversar
Se tem algo que ainda podemos fazer em excesso é conversar. Que o façamos todos os dias, sozinhos, a dois, a sete. Respeitando sempre o silêncio. Porque a conversa não suja o chão, não fere a terra, não contamina as águas. Alimenta e sacia a sede da alma, como nenhuma outra fonte.
Txai C Mendes
Eu adoro o trabalho de Berenice Abbott, especialmente pelos tons de preto e branco, pela luz de suas imagens, pelas cenas urbanas de Nova York dos anos de 1940 e 1950. Essa fotografia, me parece a cena de um sonho, ou de um filme. Para mim são profissionais como Berenice, que elevaram a fotografia ao status de arte.
I love Berenice Abbott's black and white tones. It feels to me as a dream scene, or a distant memory. To me, this is one example of how people can elevate Photography to the art world.
Berenice Abbott - Fifth Avenue, New York, USA | 1936.
Eu não consigo explicar muito bem quão bonita acho essa fotografia. Você que vê, sente a mesma coisa? Talvez a gente não se conheça, mas tenhamos muitas coisas em comum. Acredito que a arte nos aproxima, nos convida a redescobrir o que compartilhamos como seres humanos.
I can't explain how beautiful this image is to my eyes. Can you see it as well? If you can, perhaps we don't know each other, however we could have plenty of things in common, because this is the real work of a true artist, to approach us, to invite us to discover what we can share as human beings.
Gordon Parks - Place de la Concorde, Paris, France | 1950.
O Sertão existe muito aqui, ali, e acolá. Lá, tudo é ir.
Nada é perto, longe, depressa ou devagar.
Tudo é vento, sombra, caminhar.
Indo-se, rindo-se.
Passar.
Txai C Mendes
Coragem
Olho essa fotografia, vejo o homem prestes a entrar no mar, por um momento ele observou a força das ondas. O que ele pensou? Eu penso; coragem é fundamental.
Dublin, 05/05/23.
I look at this photograph, I see the man about to enter the sea, for a moment he observed the power of the waves. What did he think? I think; courage is precious.
Às vezes observo mais as coisas do que as pessoas. E por olhar para os objetos, mais penso nas pessoas, e na vida. Gosto de imaginar que esse banco tem a vontade de receber visitas; um casal que senta para dividir um sorvete, um desempregado que deita para sonhar com suas glórias, um pássaro que come farelos de pão que uma senhora deixou cair. E é tudo isso que o banco quer, poder fazer parte de todos esses acontecimentos.
Dublin, 05/05/23.
Sometimes I observe things more than people. And by looking at objects, I think more about people and life. I like to imagine that this bank is willing to receive visitors, a couple that sits down to share an ice cream, a disillusioned person that lies down to dream of a life of conquests, a bird that eats the crumbs of bread that a lady left behind. The possibilities are many, for the desire of a simple bank.
O que eu posso falar sobre um lugar? As vezes me faltam palavras, não sei usá-las como gostaria. Uma fotografia talvez baste, não para resumir, mas para expressar o que o coração teve vontade de dizer, mas não soube como.
Dublin, Ireland - 04/05/23
What can I say about a place? Sometimes I lack words, I don't know how to use them as I would like. A photograph might be enough, not to summarize the place, but to show a little of what the heart wanted to say, but didn't know how.
Essa é uma das minhas fotografias favoritas. Não sei o que vejo de mim nela. Talvez calma, espera, silêncio. Quem sabe a vontade de estar com outra árvore, para conversar sobre o céu e as nuvens, enquanto o vento alisa os campos.
Dublin, Irlanda - 03/04/23.
This is one of my favorite photographs. I don't know what of me is in her. Maybe calm, silence, solitude. Perhaps the desire to find another tree, to talk about the sky and the clouds, while the wind smoothes the fields.
Dublin, Ireland - 03/04/23.
Uma vez eu li que a fotografia não é a arte de congelar momentos, mas a arte de se movimentar, para encontrar momentos dignos de serem fotografados. Não lembro quem disse isso, mas tenho pensado sobre a arte de se movimentar, de ir em busca de algo, perdendo algumas coisas e encontrando outras. Ouvindo um podcast sobre mitologia, o entrevistado disse a seguinte expressão, "se resolve caminhando". Acho que a fotografia (e a vida?) se resolve caminhando. Hoje se me perguntarem o que é a fotografia, eu diria: caminhar-se.
Dublin, Irlanda, 02/05/23.
I once read that photography is not the art of freezing moments, but the art of moving around, to find moments worthy of being photographed. I don't remember who said it, but I've been thinking about the art of moving, of going in search of something, losing some things and finding others. Listening to a podcast about mythology, the interviewee said the following expression, "it resolves itself by walking". I think that photography is resolved by walking (also life?). Today if you ask me what photography is, I would say: walk to meet me.